sexta-feira, 30 de abril de 2010

Aulas de Política no Brasil!

E na minha primeira semana em Hong Kong, ao escolher as matérias que eu estudaria no meu ano escolar “chinês” (as aspas serão explicadas mais tarde), me senti na obrigação de escolher GPA – Government Policies and Affairs – ou em Português simples: Política.

Eu estava de fato muito animada, imaginando que eu iria entrar em uma sala de aula em que um quadro do Mao Tse-tung estaria na parede, o livro vermelho nas carteiras, e uma bandeira chinesa atrás da mesa do professor.

Mas a minha aula de política “chinesa” tornou-se em aula explicativa do sistema político norte-americano, onde eu até mesmo aprendi a recitar o preâmbulo da constituição!

Confesso que no começo fiquei arrependida, afinal se estou aqui, é porque gosto e quero salvar minhas origens chinesas. Mas eu acredito que não perdi meu tempo. Foi importante entender por que os americanos são tão orgulhosos de seu país, e por que aulas de política deveriam ser implementadas no Brasil.

É uma vergonha não saber como nosso país funciona. É muito fácil criticar o Congresso, os senadores – que as pessoas infelizmente nem lembram em quem votaram, e se seu candidato se elegeu - , os deputados e a corrupção que assombra nosso país. Mas, na minha opinião, muitas dessas criticas são somente resultado do que escutamos da Globo, da campanha política do nosso partido, das acusações da oposição.

Eu, como uma estudante brasileira de 17 anos, só consigo entender o nosso Congresso Nacional por causa das minhas aulas de Política na China. Irônico o bastante?

Sim, aula de Política pode virar lavagem cerebral, mas o mais importante de tudo é ensinar aos jovens os mecanismos da política do seu país, o que pode ser feito para melhorar, quais são nossos direitos. É importante ensinar qual a diferença de senador e deputado, o que é federalismo, o que é constitucionalismo.

Porque na hora de votar, cada cidadão vai de fato saber escolher o seu candidato, e mais importante: vai saber que tem o direito, ou melhor, a obrigação de cobrar resultados depois que seu representante for eleito.

Afinal, reclamos dos políticos, mas esquecemos que quem lhes deu autoridade fomos nós, através de uma escolha democrática. O que o Brasil precisa para melhorar são políticos mais honestos, que só aparecerão quando políticos honestos forem educados, o que só vai acontecer quando política começar a ser ensinada mais cedo.

Eu nunca admirei os EUA, nunca gostei desse patriotismo exagerado, mas acho que se nós, brasileiros, fossemos um pouco que seja mais interessados em política e nos nossos direitos, muitos dos escândalos recentes não teriam acontecido no cenário nacional. Se nós, como os norte-americanos, começássemos a aprender o que é Judiciário, Executivo e Legislativo, ao mesmo tempo que aprendemos o abecedário, teríamos eleitores mais exigentes, e consequentemente, políticos melhores.

Graças a China, e ao subsidio do governo de Hong Kong, meu voto, daqui há três meses, será muito mais consciente.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Hong Kong, 28 de abril de 2010.

Há oito meses, lá estávamos nós – eu, meus pais, meus irmãos e a Vó Lin – no aeroporto de Guarulhos. Naquele momento eu ainda não tinha me dado conta do que eu estava fazendo. Eu não tinha me dado conta que eu estava indo para o meu intercambio. Eu não tinha me dado conta que eu estava indo morar em uma casa completamente nova (e pequena, diga-se de passagem), com uma família que eu somente conhecia por fotos, e uma escola que eu preconceituosamente já odiava. Perfeito!

E já na fila do check-in, um bom sinal: vemos a jornalista Sonia Bridi na mesma fila que eu.

Para contextualizar vocês, preciso explicar a importância que essa mulher tem na minha vinda para a China.

Caso não saibam, Sonia Bridi e seu marido Paulo Zero, mudaram-se para Beijing no intuito de morar na capital chinesa por um ano, por motivos profissionais. A experiência virou livro, que foi comprado pela minha mãe, e lido com muito interesse e comoção por ela e por mim.

A Sonia Bridi virou referencia - se ela conseguiu sobreviver em Beijing por um ano, por que eu não conseguiria em Hong Kong?

Ela se tornou inspiração, se tornou motivação, e se tornou a jornalista favorita da minha mãe.

Vê-la foi como um sinal de Deus, dizendo: “Vá tranqüila, você está fazendo a coisa certa”. Vê-la foi como ver a sobrevivente do naufrago, e saber que há esperança na pior das situações. Vê-la foi alivio misturado com admiração.

Eu me arrependo de não ter pedido uma foto, um autografo. Podia ter trocado e-mails, dito que ela é minha inspiração, descolar uns bicos na Globo. Então, se você, Sonia, um dia ler esse texto, saiba que mesmo indiretamente você contribuiu para a minha experiência chinesa.

Agora falta pouco para acabar. O fim está próximo, e dizem que quando algo está quase acabando, sempre pensamos no começo. Verdade.

Minha primeira semana foi pior que treinamento do BOPE. Eu nunca tinha me sentido tão perdida na minha vida. Nunca tinha ligado tão desesperada para a minha mãe. Nunca tinha sentido que eu tinha feito a maior cagada de todos os tempos. Nunca me senti tão sozinha, ou tão amedrontada.

O tempo passou, me superei de agosto a abril, e agora, quase no fim, o sentimento é ótimo.

Nunca na minha vida me senti tão capaz.

Nunca me senti tão orgulhosa de mim mesma.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

22 de abril de 2010. Há 510 anos, Cabral chega ao nosso litoral. Parabéns, Brasil!

E refletindo sobre nossos 510 anos de História, percebo quanta coisa temos que estudar. Quantos detalhes, quantas guerras, quanta exploração, quantos políticos corruptos.

Sim, muita coisa para estudar sobre um país que tem apenas 510 anos.

O que me faz pensar nos detalhes, guerras, exploração, políticos, etc etc que os alunos chineses tem que estudar. Porque se nossa História é meramente centenária, a chinesa é milenar!

E qual é a única coisa sobre nossa História que as pessoas aqui na China sabem? FUTEBOL, é claro.

A imagem de hoje é uma foto tirada em Mong Kok, a área com as melhores falsificações e preços daqui de Hong Kong. A 25 de Março não é nada, meus amigos. Aqui, uma LouisE VuittonG sai por R$30. E uma Louis Vuitton por R$50.

Fiquei emocionada em ver um pedacinho do meu país nas ruas chinesas. É verdade que temos corrupção, violência, trafico de drogas, seqüestros, favelas... mas também temos um patrimônio imensurável: a nossa arte chamada futebol.

E detalhe: a camisa do Brasil é a mais cara nas lojas. Ainda bem que eu já tenho a minha...

É isso ai.

Feliz Aniversario, Brasil!


quarta-feira, 21 de abril de 2010

Ser civilizado é relativo?

Hoje, às 7h00 da manhã, estava eu no mini-bus pensando sobre todas as criticas que já fiz a todos os chineses mal-educados, que sempre cospem nas ruas, esbarram em você quando caminham, e comem de boca aberta.

Mas parei para refletir, e pensar que se por este ponto de vista os chineses são de fato incivilizados, há muitos outros em que os brasileiros são piores. Ou até mesmo desumanos quando comparados aos chineses.

Para ilustrar meu ponto de vista, preciso comentar sobre o maravilhoso transporte publico que temos aqui em Hong Kong. Para começar, o nosso bilhete-unico, conhecido como Octopus Card, funciona da seguinte maneira: o individuo entra no ônibus, e simplesmente encosta o cartão num sensor magnético ao lado do motorista. Esse cartão também pode ser usado para comprar comida no Mc Donald’s, fazer compras no supermercado, pagar estacionamento...

E agora, transferindo tal possibilidade para o Brasil. Quando um ônibus sem o coitado e suado do cobrador funcionaria no nosso país? (detalhe: aqui ninguém fica suado no ônibus, porque temos ar-condicionado. É o paraíso...)

Me lembro de quando estava num ônibus, que ia da Paulista ao Estádio do Morumbi, com duas amigas. Sexta feira a tarde, pré-show da Madonna, um transito do inferno (transito sexta feira a tarde, em São Paulo? Imagina...). Conversávamos sobre quão lotado o ônibus estava, o casal gay que ia ao show conosco... E ouvindo de intrusa a conversa do cobrador com um passageiro, descubro que em Domingo com jogo de futebol, os torcedores se negam a pagar. E vandalizam o ônibus. O que resulta em um prejuízo do caramba ao pobre do motorista e ao pobre, e igualmente suado, cobrador.

E voltando a Hong Kong... aqui, um celular esquecido pode ser recuperado. Uma carteira achada é devolvida. Assalto, seqüestro e coisas típicas do Brasil são raras – ao meu ver nulas, mas verdade seja dita que os chineses , digo, Hong Kongianos (senão eles se ofendem), ainda se preocupam com isso.

O que me leva a pensar: se eles temem estas coisas aqui em HK, quantos anos sobreviveriam no Rio de Janeiro? Ok, não vou deixar meu orgulho paulistano falar mais alto que a razão. Quantos anos eles sobreviveriam no Brasil?

Enfim, uso este post para defender meus antepassados, e meus amigos chineses.

Talvez eles sejam de fato incivilizados, mas já são melhores que muitos brasileiros.

terça-feira, 20 de abril de 2010

我说中文,说的不好。

E depois de duas horas clicando em todos os botões possíveis do website do Blogger, eu finalmente consigo achar o lugar para escrever.

Porque o site está em chinês.

O que me leva a concluir que: depois de quase dois anos de aula de mandarim, eu não consigo ler a porcaria de um site.

Ironicamente, tanto minha 老师 (professora) no Brasil, quanto a daqui da China, me disseram que eu aprendo rápido. Rápido? Coitados dos que aprendem devagar...

O que me leva a entender por que os chineses são tão inteligentes. Por que eles mudam para o Brasil, fazem cursinho por um ano, e entram na USP antes dos brasileiros.

Por quê? POR QUÊ?!

Há mais ou menos 2000 ideogramas chineses, e uma pessoa letrada tem decorado 500, no mínimo. Mas essa é uma média para os não lá tão inteligentes, que passam mais tempo plantando arroz do que realmente estudando. O que me leva a comparar a classe rural chinesa com os alunos brasileiros – não somente aqueles das escolas publicas, mas principalmente os das privadas. Será que algum brasileiro seria capaz de aprender o tanto que esses chineses aprendem, tendo que passar mais tempo numa fazenda ou numa fabrica, sem tempo ou obrigação de estudar?

Mas mudando o foco agora... Na minha aula de política, descobri que ao contrario do que muitos pensam, tanto o presidente Hu Jintao , como o Premier chinês Wen Jia Bao são mais do que fluentes em inglês. O que leva o mundo inteiro a perguntar: por que então os discursos dos políticos chineses são sempre em mandarim, ao invés de em inglês, o idioma que unifica todas as nações?

Porque a China, meus amigos, não precisa disso. Quem quiser ouvi-los que procure um interprete, quem quiser se comunicar que aprenda mandarim. Porque a tendência não é os chineses aprendendo inglês, mas o mundo aprendendo mandarim.

Enfim, quem sabe daqui há alguns, muitos, dezenas de anos, eu finalmente consiga ler um site em chinês, sem precisar apelar e apertar todos os botões possíveis.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

7 meses e 22 dias. (23 dias, daqui há 40 minutos, e provavelmente antes de eu acabar de escrever este post)

EU SOBREVIVI.


Foram 7 meses e 22 dias morando sob o mesmo teto que uma família chinesa. Foram 7 meses e 22 dias estudando numa escola local. Foram 7 meses e 22 dias comendo coisas nojentas. Foram 7 meses e 22 dias longe da pátria amada, idolatrada, salve e salve.

Primeiramente, acho que eu devo explicar o titulo. Pacifica porque no momento eu me encontro na China, então portanto o oceano que nos banha é o... ? ah haa, pegou a piada agora?

Verdade seja dita: eu nunca fui patriota. Lembro de ter tido essa conversa com a minha mãe e irmã a caminho do aeroporto, quando lhes disse que não tinha orgulho algum em ser brasileira. Que eu jamais morreria pela minha pátria.

Mas o engraçado é que tudo muda com a ausência. Não tem nada como o carinho brasileiro, a comida salgada, o feijão com alho... O arroz frito e temperado, o beijo na bocheca na hora do bom-dia...

Mas não estou escrevendo para falar das coisas que eu sinto falta. Me dei conta de que essa minha aventura não pode passar sem nenhum registro. Por que afinal, sou eu , pequena criatura brasileira, vivendo na CHINA. CHINA. CHINA!!

Pois bem, tanta coisa eu não contei, tanta coisa eu vivi, e principalmente: quanta coisa nojenta eu comi.

E vamos começar pelo começo. Vou contar um pouco da minha rotina aqui para vocês, leitores (e ai mãe, tudo bem?), para que vocês possam entender um pouquinho da minha experiência como intercambista aqui em Hong Kong.

Estudo em uma escola chamada Heep Yunn, uma das escolas mais rígidas para meninas de Hong Kong. Nosso look é realmente muito atrativo: um belo vestido azul chinês, com um broche maravilhoso com o brasão da escola pendurado no colarinho. Michael Jackson é nosso ídolo: usamos sapatos pretos de couro, combinados com magníficas meias brancas. Infelizmente, queridos brasileiros, as Havaianas não são bem vistas aqui, e portanto não somos permitidas a usa-las para ir a escola.

Enfim, a minha jornada por aqui está quase acabando agora – são só mais dois meses. Dois meses, e volto a ver as nossas palmeiras, onde cantam os sabiás.

Mais aventuras ficam para o próximo post.

Beijomeliga, 谢谢 por lerem, e 再见!