quinta-feira, 5 de agosto de 2010

A Volta

Muito se fala do antes e do durante.

O “era uma vez” sempre explica o presente ou passado das mais diversas personagens dos contos de fada, e o fim da historia é apenas descrito em uma curta e simples frase: “e foram felizes para sempre”.

Assim é com o intercambio; muito se diz da despedida da família e amigos, do duro processo de adaptação, dos conflitos, das saudades da casa, das desavenças com a família hospedeira, das dificuldades superadas. Eu, como intercambista, nunca li algo sobre o depois do intercambio. Nunca soube se pessoas passam pela mesma coisa que eu estou passando agora.

Voltar é estranho. É indescritível. Só saindo de casa, e retornando ao ambiente de antes para saber como é. Algumas pessoas são as mesmas, outras mais gordas, umas ruguinhas a mais, uns quilinhos a menos. Pessoas que outrora era impossível de se tolerar tornam-se agradáveis – a distancia pode salvar alguns relacionamentos – e amigos antes considerados para sempre não estão mais ao seu lado.

É como sentir que uma maquina do tempo lhe trouxe ao passado, mas ao mesmo tempo há alguns resquícios de futuro.

Mas o meu passado não tinha a presença d’Aquele-que-nao-deve-ser-nomeado: o Vestibular!

A pressão do Vestibular começa a agarrar meus calcanhares. Me pego pensando: pra que? Existe maior crueldade do que exigir que jovens de 17 a 20 e tantos anos decidam o que querem do resto de suas vidas? Ah, se fosse só uma questão de decisão. Mas não. Depois da decisão vem o realmente difícil: lutar por esse “sonho” – ou imposição social? Estudar, estudar, estudar. Copiar teorias que em realidade não entendemos, decorar formulas que em dois ou três meses esqueceremos, e aprender sobre civilizações e sociedades de antes de Cristo!

Nos tornamos maquinas de estudo, capazes de decorar milhares de formulas, eras históricas, elementos químicos, mapas, gráficos, estados, capitais, rios, cadeias montanhosas, climas, vegetação, crises econômicas, e assim vai uma extensa lista.

E quero escrever aqui hoje, para registrar a minha revolta com essa necessidade de aprendermos tanto conteúdo junto, apenas teórico, sem levarmos quase nada a pratica. Quero escrever aqui, para dizer que espero estar em uma universidade em dois anos. E escrevo aqui que acho que minha Área é Humanas. E que qualquer engenharia, medicina e economia estão fora da minha lista.

Ah, como eu queria uma maquina do tempo para ter certeza de que em um futuro não muito distante, esse monstro chamado Vestibular não vai ter me prendido no calabouço de estudantes, mais conhecido como cursinho.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

O mundo das garotas e meu preparo emocional

Fofocas, intrigas e juramentos de vingança.

As brigas de meninas sempre envolvem um dos três elementos – e em casos mais sérios, ambos.

O mundo das garotas é cruel porque todas as mágoas e rancor de anos de amizade são trazidos para a discussão na hora quente de uma briga – resultados são ainda piores quando uma das duas, ou em casos extremos, ambas estão na pior semana de toda mulher: a TPM.

Depois de nove meses em Hong Kong, tive minha primeira “grande briga” com minha “melhor amiga” (uso aspas porque depois dessa briga não sei se o titulo é realmente o mais apropriado a essa pessoa). Estou sendo acusada de algo que não sei o motivo, e de que tenho certeza absoluta de que não estou errada. Assumir derrota e pedir desculpas? Nem por cima do meu cadáver.

E essa briga foi muito importante para mim. Tão importante que eu me sinto na obrigação de escrever sobre ela, e publicar os resultados que essa besteira teve na minha vida.

1.Percebo conscientemente que meu preparo emocional é péssimo. Como eu queria poder me controlar e não aparentar mágoa ou raiva – fingir que nada me abala, e não ligar para o que aconteceu (o que deixaria a iniciadora da briga extremamente irritada, porque nada como uma pessoa inabalável e emocionalmente superior para deixar uma garota ainda mais irritada). E essa briga foi boa para eu poder fazer uma auto-reflexão e perceber que mais importante que chutar o pau da barraca e dizer aquele desaforo que ficou na garganta por vários meses de amizade (eu odeio seu cabelo, seu guarda-roupa é um horror, seu ex-namorado é horrível e terminou com você por uma boa razão, etc etc), é muito mais vitorioso ter a capacidade de agir como os homens: fingir que nada aconteceu, e que nada me abala. Acordar de manhã, e ter plena convicção de que nada aconteceu, deixando a outra pessoa sem argumentos contra você. Essa briga, leitores, foi importante para me ensinar que a arma mais importante em uma discussão é saber se controlar para não virar a vilã da situação.

2.Brigas são boas para reavaliar relacionamentos, e perceber se estes são fortes o bastante. No caso de amizades, brigas são essenciais para medir quão verdadeiro tudo o que passou foi. Se na balança, mesmo a mais alta das ofensas foi feita, e mesmo assim os bons momentos falaram mais alto, essa sim é a verdadeira amizade.

3.Quando tudo der errado, há uma única pessoa que vai estar ao seu lado incondicionalmente: você mesma. Quando a besteira for grande, mas tão grande mesmo que nem uma mãe seria capaz de perdoar, você é o único individuo para se dar suporte. O que me leva a outra lição muito, mas muito essencial na vida de qualquer pessoa:

5.AME-SE. Porque no final das contas, se todos e todas forem contra você, se o mundo quiser te apedrejar e não haja Cristo que te salve, é essencial contar consigo mesma. E esse amor por mim mesma me faz ver que muito mais importante que ligar para as opiniões alheias, o meu compromisso é comigo,e minha imagem é formada de acordo com as minhas auto-criticas.

E a principio, eu pensava que o intercambio tinha como único objetivo aprender uma nova língua e saber conviver com uma nova família. Analisando tudo o que eu aprendi, vejo que tudo isso é apenas uma pequena parte de tudo que ganhei. Não apenas um novo idioma, mas também a me conhecer e reconhecer meus erros. Minhas falhas, e tentar melhora-las. Aprender a marcar a minha TPM, e me controlar mais naqueles dias. Respirar fundo na hora dos desaforos, e saber lidar com piadas sem graças em relação a minha estatura.

Porque se nem eu mesma me amar, quem vai poder fazer isso por mim?

O mundo das garotas é cruel, mas eu vou superar as crises que aparecerem. E, tendo a trilha sonora de Shrek como inspiração, sigo cantando esse trecho na minha cabeça: “I don’t give a damn about my bad reputation”. Porque mais importante do que minha reputação é eu lutar por quem eu sou.

E há cada dia que passa, é isso o que eu mais quero descobrir.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

O leite materno

E depois que a leitora mais assídua desse blog exigiu que eu postasse mais, cá estou eu para satisfazê-la – está mais feliz, mãe?

Quarta-feira , uma tarde ensolarada sem nada para fazer. O melhor lugar para passar tempo? As praias – artificiais – de Hong Kong!

E na praia,o típico caso de Hong Kong: a domestica filipina com a criança, chinesa ou estrangeira, que passa mais tempo com sua babá do que com sua real mãe. e hoje, minha inspiração vem das mães de Hong Kong.

Há alguns anos, quando minha mãe revelou que tinha me amamentado por menos de quatro meses, entrei em choque. Minha mãe, a mulher que me agüentou por 9 meses, a mulher que tem por mim um amor incondicional, me amamentou por menos tempo que o indicado! O leite materno, responsável pelos primeiras proteínas, que vão proteger a vida (com os anti-corpos) e ajudar no crescimento. Leite, o símbolo do amor materno!

E, para meu choque, descobri nesse fim de semana que as mães hong-kongianas não amamentam seus filhos. Nem por um ou dois meses. NUNCA. Porque nenhuma mulher quer perder tempo ou trabalho para amamentar seu bebe. Quem precisa do leite materno quando pode-se reproduzir o mesmo efeito com uma mistura química, produzida em algum lugar no meio da China, mais conhecida como leite em pó?

Sem mencionar o fato de que as adolescentes chinesas acreditam e argumentam que a gravidez dura 10 meses. Hello, em qual planeta você vive? Desde que eu tinha seis anos de idade eu sei que uma gravidez dura aproximadamente 37 semanas. E desde os 10, aprendi que uma cesariana é equivalente a três horas, e que um parto normal pode ser induzido e levar até 2 dias. E no final das contas, o honorário medico não é medido pelas horas gastas. Então qual a vantagem do parto normal? Claramente, minha opção desde já é a cesariana.

Enfim, depois de analisar as adolescentes hong-kongianas por 9 meses – e digo isso com firme convicção, porque estudar somente com meninas por todo esse período não é para qualquer pessoa – afirmo que ser mulher é difícil. Em qualquer parte do mundo ser mulher é complicado, mas Hong Kong faz esse cargo ser ainda mais penoso.

Porque em uma cidade em que definitivamente “time is money”, e a competição e luta pela igualdade dos sexos é acirrada, pensar nas simples coisas inclusas em ser mulher é difícil. Não há tempo para amamentação, não há ideia da duração de uma gravidez, não há como não contratar uma filipina para substituir o carinho que é roubado dos filhos e filhas nascidos nessa terra.

E alem de terem que estudar para entrar em uma boa universidade, aprenderem a tocar piano para mostrar versatilidade, serem fluentes em outras línguas para se tornarem mais imponentes no mercado de trabalho, as meninas de Hong Kong tem que achar tempo e habilidade para se tornarem casáveis. Uhm, espera um pouco, e quando há tempo para simplesmente viver?!

Já dizia o poeta de “Filtro Solar” que todos temos que viver em New York por um tempo, mas mudarmos antes de nos tornarmos frios. E o mesmo se aplica a Hong Kong.

As pessoas podem dizer que o Brasil não é tão seguro, que brasileiros não são tão eficientes, e que não temos vontade de melhorar. É verdade? É verdade. Mas também há o lado positivo: somos muito mais humanos e felizes. E espertos. Porque nenhuma menina que tenha no mínimo 10 anos vai argumentar que uma gravidez dura 10 meses. E nenhum pai ou mãe ensina sua filha que dividir o mesmo hashi, e portanto troca salivar, pode levar a uma gravidez (piada baseada em fatos reais). Somos mais vividos. E no final das contas, quando vemos o mundo de forma biológica, quem é mais forte? Claramente: nós. Porque instintivamente, temos muito mais reflexos e experiência de vida. E no final das contas, se o mundo vier a um colapso, o que é mais importante?

Espero que depois das minhas gravidezes – que durarão no máximo nove meses, eu tenha tempo para curtir meus filhos. E fica aqui prometido que eu os amamentarei por seis meses. E que eu perceba que mais importante que dinheiro, carreira e coisas materiais, há uma coisa que nenhuma outra pessoa –ou mistura química - tem o direito e obrigação de fazer: dar vida em forma liquida a minha prole.

terça-feira, 18 de maio de 2010

“Eu falo Português errado...”

Cauda e calda. Mau e mal. A fim e afim.

Talvez eu tenha passado muito tempo longe do Brasil. Mesmo com a auto-correcao do Word, ainda cometo erros de ortografia. Maravilha! A FUVEST me espera.

Opera chinesa: a arte de cantar gritando

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Dividindo o peixe



Dia das mães. Mais uma comemoração longe de casa. Mais uma comemoração ao estilo chinês!

Segundo a tradição chinesa, as festividades precisam ser comemoradas antecipadamente ou no dia – nunca depois. Sendo assim, nesse dias das mães não tivemos tempo para comemorar com a família do meu pai chinês, o que deixou a mãe dele – uma senhora que me lembra a minha bisavó – muito brava.

Essa mesma senhora, a versão viva da minha “Abu” (avo, no dialeto da família Sun), tem sempre a “honra” de comer as partes mais exóticas do peixe: a cabeça e a calda.

Para os chineses, a cabeça do peixe representa o começo, e a calda o final. Portanto, se a cabeça for servida, a calda tem que ser servida também, para a mesma pessoa. Porque pela óptica chinesa, comer somente o começo ou o final de algo não é bom pressagio. O que me levou a imaginar: qual é a maneira correta, para o chineses, de se comer cobras?

Mas a etiqueta chinesa não é somente diferente na hora de comer.

Muitos ocidentais muitas vezes se sentem ofendidos pela maneira com que os chineses recebem presentes. Nunca os abrem na frente de quem os deu, e nunca expressam se realmente gostaram. Ou nunca usam o que lhes foi dado. A pratica “ah, eu amei esse par de meias, exatamente o que eu precisava” jamais se aplica na China. Mesmo porque, segundo minha lăoshí (professora), agradecer demais é mal educado. Assim como abrir os presentes é a pior coisa que alguém pode fazer quando é presenteado. Vai entender!

Enfim, seja compreensivo ao presentear chineses, e caso aceite comer a cabeça do peixe, saiba a calda tambem é essencial!


quarta-feira, 5 de maio de 2010

Saudades da China?


Espetinhos chineses: vou sentir saudades.

Oito semanas.

Exatamente oito semanas.

Daqui há oito semanas, não tenho mais que reclamar da atitude chinesa, da minha escola, do meu uniforme. Daqui há oito semanas minha aventura acaba. Daqui há oito semanas, minha missão (inicialmente impossível) vai ter sido cumprida.

E eu nunca imaginei que me sentiria assim. Pensar em deixar minha vida daqui começa a me dar um certo pânico. Será saudades?

Por que eu vim para Hong Kong? Sinceramente, nem eu mesma sei responder. Acho que uma mistura de tudo: querer mudar a minha vida no Brasil, poder conhecer novas pessoas, poder orgulhosamente dizer que eu posso falar Mandarin (hahaha, grande piada). Mas no fundo no fundo, acho que eu vim para encontrar alguém que eu vou ter que conviver pelo resto da minha vida. Eu vim para me encontrar.

E vivendo nessa cidade louca, onde todas as nacionalidades – desde chineses, brasileiros, indianos, paquistaneses, nepaleses, mexicanos, filipinos até todos os tipos europeus – podem ser encontradas, eu vim procurar minha identidade. Minhas raízes. Meu sangue oriental.

E depois desse tempo todo aqui, percebo que é muito difícil classificar quem sou eu. No Brasil, digo que sou japonesa e chinesa. Mas aqui na China, tenho que dizer que sou brasileira, para poder justificar o fato de que eu não falo nem japonês nem chinês. Então, se ai no Brasil eu sou uma coisa, e aqui na China eu sou outra, o que sou eu?

E cada vez mais acredito na frase: “o individuo é produto do seu meio”. É inevitável a intimidade que os latinos sentem uns com os outros em menos de 30 minutos de conversa, é incrível comparar o calor latino com a vergonha e maneiras embaraçadas chinesas.

Eu, como uma descendente de chineses e japoneses, sendo a terceira geração no Brasil, já não me sinto e não me encaixo com muitas das maneiras que os orientais tem. Mas o que seria de mim se meu bisavô chinês e minha bisavó japonesa não tivessem imigrado para o Brasil?

A minha missão aqui está quase acabando, mas tenho uma única certeza: esses foram os primeiros nove meses de muitos anos que eu ainda vou viver nesse país – ok, teoricamente eu vivo agora em uma Região de Administração Especial, então não conta como China de verdade – que o mundo todo tenta compreender.

Porque eu não gastei tanto dinheiro (reformulando: meus pais não gastaram tanto dinheiro) nas minhas de Mandarin para eu não conseguir ser no mínimo nível intermediário (apesar do meu livro dizer que eu sou, habilidades praticas ainda não correspondem a esse nivel). Não decorei tantos ideogramas – uns 30...? – para não conseguir ler um jornal. Não morei 9 meses na China para não entender a cultura chinesa.

E apesar de ter que me despedir disso tudo em oito semanas, fica a certeza de que daqui há um tempo, estou de volta.








sexta-feira, 30 de abril de 2010

Aulas de Política no Brasil!

E na minha primeira semana em Hong Kong, ao escolher as matérias que eu estudaria no meu ano escolar “chinês” (as aspas serão explicadas mais tarde), me senti na obrigação de escolher GPA – Government Policies and Affairs – ou em Português simples: Política.

Eu estava de fato muito animada, imaginando que eu iria entrar em uma sala de aula em que um quadro do Mao Tse-tung estaria na parede, o livro vermelho nas carteiras, e uma bandeira chinesa atrás da mesa do professor.

Mas a minha aula de política “chinesa” tornou-se em aula explicativa do sistema político norte-americano, onde eu até mesmo aprendi a recitar o preâmbulo da constituição!

Confesso que no começo fiquei arrependida, afinal se estou aqui, é porque gosto e quero salvar minhas origens chinesas. Mas eu acredito que não perdi meu tempo. Foi importante entender por que os americanos são tão orgulhosos de seu país, e por que aulas de política deveriam ser implementadas no Brasil.

É uma vergonha não saber como nosso país funciona. É muito fácil criticar o Congresso, os senadores – que as pessoas infelizmente nem lembram em quem votaram, e se seu candidato se elegeu - , os deputados e a corrupção que assombra nosso país. Mas, na minha opinião, muitas dessas criticas são somente resultado do que escutamos da Globo, da campanha política do nosso partido, das acusações da oposição.

Eu, como uma estudante brasileira de 17 anos, só consigo entender o nosso Congresso Nacional por causa das minhas aulas de Política na China. Irônico o bastante?

Sim, aula de Política pode virar lavagem cerebral, mas o mais importante de tudo é ensinar aos jovens os mecanismos da política do seu país, o que pode ser feito para melhorar, quais são nossos direitos. É importante ensinar qual a diferença de senador e deputado, o que é federalismo, o que é constitucionalismo.

Porque na hora de votar, cada cidadão vai de fato saber escolher o seu candidato, e mais importante: vai saber que tem o direito, ou melhor, a obrigação de cobrar resultados depois que seu representante for eleito.

Afinal, reclamos dos políticos, mas esquecemos que quem lhes deu autoridade fomos nós, através de uma escolha democrática. O que o Brasil precisa para melhorar são políticos mais honestos, que só aparecerão quando políticos honestos forem educados, o que só vai acontecer quando política começar a ser ensinada mais cedo.

Eu nunca admirei os EUA, nunca gostei desse patriotismo exagerado, mas acho que se nós, brasileiros, fossemos um pouco que seja mais interessados em política e nos nossos direitos, muitos dos escândalos recentes não teriam acontecido no cenário nacional. Se nós, como os norte-americanos, começássemos a aprender o que é Judiciário, Executivo e Legislativo, ao mesmo tempo que aprendemos o abecedário, teríamos eleitores mais exigentes, e consequentemente, políticos melhores.

Graças a China, e ao subsidio do governo de Hong Kong, meu voto, daqui há três meses, será muito mais consciente.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Hong Kong, 28 de abril de 2010.

Há oito meses, lá estávamos nós – eu, meus pais, meus irmãos e a Vó Lin – no aeroporto de Guarulhos. Naquele momento eu ainda não tinha me dado conta do que eu estava fazendo. Eu não tinha me dado conta que eu estava indo para o meu intercambio. Eu não tinha me dado conta que eu estava indo morar em uma casa completamente nova (e pequena, diga-se de passagem), com uma família que eu somente conhecia por fotos, e uma escola que eu preconceituosamente já odiava. Perfeito!

E já na fila do check-in, um bom sinal: vemos a jornalista Sonia Bridi na mesma fila que eu.

Para contextualizar vocês, preciso explicar a importância que essa mulher tem na minha vinda para a China.

Caso não saibam, Sonia Bridi e seu marido Paulo Zero, mudaram-se para Beijing no intuito de morar na capital chinesa por um ano, por motivos profissionais. A experiência virou livro, que foi comprado pela minha mãe, e lido com muito interesse e comoção por ela e por mim.

A Sonia Bridi virou referencia - se ela conseguiu sobreviver em Beijing por um ano, por que eu não conseguiria em Hong Kong?

Ela se tornou inspiração, se tornou motivação, e se tornou a jornalista favorita da minha mãe.

Vê-la foi como um sinal de Deus, dizendo: “Vá tranqüila, você está fazendo a coisa certa”. Vê-la foi como ver a sobrevivente do naufrago, e saber que há esperança na pior das situações. Vê-la foi alivio misturado com admiração.

Eu me arrependo de não ter pedido uma foto, um autografo. Podia ter trocado e-mails, dito que ela é minha inspiração, descolar uns bicos na Globo. Então, se você, Sonia, um dia ler esse texto, saiba que mesmo indiretamente você contribuiu para a minha experiência chinesa.

Agora falta pouco para acabar. O fim está próximo, e dizem que quando algo está quase acabando, sempre pensamos no começo. Verdade.

Minha primeira semana foi pior que treinamento do BOPE. Eu nunca tinha me sentido tão perdida na minha vida. Nunca tinha ligado tão desesperada para a minha mãe. Nunca tinha sentido que eu tinha feito a maior cagada de todos os tempos. Nunca me senti tão sozinha, ou tão amedrontada.

O tempo passou, me superei de agosto a abril, e agora, quase no fim, o sentimento é ótimo.

Nunca na minha vida me senti tão capaz.

Nunca me senti tão orgulhosa de mim mesma.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

22 de abril de 2010. Há 510 anos, Cabral chega ao nosso litoral. Parabéns, Brasil!

E refletindo sobre nossos 510 anos de História, percebo quanta coisa temos que estudar. Quantos detalhes, quantas guerras, quanta exploração, quantos políticos corruptos.

Sim, muita coisa para estudar sobre um país que tem apenas 510 anos.

O que me faz pensar nos detalhes, guerras, exploração, políticos, etc etc que os alunos chineses tem que estudar. Porque se nossa História é meramente centenária, a chinesa é milenar!

E qual é a única coisa sobre nossa História que as pessoas aqui na China sabem? FUTEBOL, é claro.

A imagem de hoje é uma foto tirada em Mong Kok, a área com as melhores falsificações e preços daqui de Hong Kong. A 25 de Março não é nada, meus amigos. Aqui, uma LouisE VuittonG sai por R$30. E uma Louis Vuitton por R$50.

Fiquei emocionada em ver um pedacinho do meu país nas ruas chinesas. É verdade que temos corrupção, violência, trafico de drogas, seqüestros, favelas... mas também temos um patrimônio imensurável: a nossa arte chamada futebol.

E detalhe: a camisa do Brasil é a mais cara nas lojas. Ainda bem que eu já tenho a minha...

É isso ai.

Feliz Aniversario, Brasil!


quarta-feira, 21 de abril de 2010

Ser civilizado é relativo?

Hoje, às 7h00 da manhã, estava eu no mini-bus pensando sobre todas as criticas que já fiz a todos os chineses mal-educados, que sempre cospem nas ruas, esbarram em você quando caminham, e comem de boca aberta.

Mas parei para refletir, e pensar que se por este ponto de vista os chineses são de fato incivilizados, há muitos outros em que os brasileiros são piores. Ou até mesmo desumanos quando comparados aos chineses.

Para ilustrar meu ponto de vista, preciso comentar sobre o maravilhoso transporte publico que temos aqui em Hong Kong. Para começar, o nosso bilhete-unico, conhecido como Octopus Card, funciona da seguinte maneira: o individuo entra no ônibus, e simplesmente encosta o cartão num sensor magnético ao lado do motorista. Esse cartão também pode ser usado para comprar comida no Mc Donald’s, fazer compras no supermercado, pagar estacionamento...

E agora, transferindo tal possibilidade para o Brasil. Quando um ônibus sem o coitado e suado do cobrador funcionaria no nosso país? (detalhe: aqui ninguém fica suado no ônibus, porque temos ar-condicionado. É o paraíso...)

Me lembro de quando estava num ônibus, que ia da Paulista ao Estádio do Morumbi, com duas amigas. Sexta feira a tarde, pré-show da Madonna, um transito do inferno (transito sexta feira a tarde, em São Paulo? Imagina...). Conversávamos sobre quão lotado o ônibus estava, o casal gay que ia ao show conosco... E ouvindo de intrusa a conversa do cobrador com um passageiro, descubro que em Domingo com jogo de futebol, os torcedores se negam a pagar. E vandalizam o ônibus. O que resulta em um prejuízo do caramba ao pobre do motorista e ao pobre, e igualmente suado, cobrador.

E voltando a Hong Kong... aqui, um celular esquecido pode ser recuperado. Uma carteira achada é devolvida. Assalto, seqüestro e coisas típicas do Brasil são raras – ao meu ver nulas, mas verdade seja dita que os chineses , digo, Hong Kongianos (senão eles se ofendem), ainda se preocupam com isso.

O que me leva a pensar: se eles temem estas coisas aqui em HK, quantos anos sobreviveriam no Rio de Janeiro? Ok, não vou deixar meu orgulho paulistano falar mais alto que a razão. Quantos anos eles sobreviveriam no Brasil?

Enfim, uso este post para defender meus antepassados, e meus amigos chineses.

Talvez eles sejam de fato incivilizados, mas já são melhores que muitos brasileiros.

terça-feira, 20 de abril de 2010

我说中文,说的不好。

E depois de duas horas clicando em todos os botões possíveis do website do Blogger, eu finalmente consigo achar o lugar para escrever.

Porque o site está em chinês.

O que me leva a concluir que: depois de quase dois anos de aula de mandarim, eu não consigo ler a porcaria de um site.

Ironicamente, tanto minha 老师 (professora) no Brasil, quanto a daqui da China, me disseram que eu aprendo rápido. Rápido? Coitados dos que aprendem devagar...

O que me leva a entender por que os chineses são tão inteligentes. Por que eles mudam para o Brasil, fazem cursinho por um ano, e entram na USP antes dos brasileiros.

Por quê? POR QUÊ?!

Há mais ou menos 2000 ideogramas chineses, e uma pessoa letrada tem decorado 500, no mínimo. Mas essa é uma média para os não lá tão inteligentes, que passam mais tempo plantando arroz do que realmente estudando. O que me leva a comparar a classe rural chinesa com os alunos brasileiros – não somente aqueles das escolas publicas, mas principalmente os das privadas. Será que algum brasileiro seria capaz de aprender o tanto que esses chineses aprendem, tendo que passar mais tempo numa fazenda ou numa fabrica, sem tempo ou obrigação de estudar?

Mas mudando o foco agora... Na minha aula de política, descobri que ao contrario do que muitos pensam, tanto o presidente Hu Jintao , como o Premier chinês Wen Jia Bao são mais do que fluentes em inglês. O que leva o mundo inteiro a perguntar: por que então os discursos dos políticos chineses são sempre em mandarim, ao invés de em inglês, o idioma que unifica todas as nações?

Porque a China, meus amigos, não precisa disso. Quem quiser ouvi-los que procure um interprete, quem quiser se comunicar que aprenda mandarim. Porque a tendência não é os chineses aprendendo inglês, mas o mundo aprendendo mandarim.

Enfim, quem sabe daqui há alguns, muitos, dezenas de anos, eu finalmente consiga ler um site em chinês, sem precisar apelar e apertar todos os botões possíveis.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

7 meses e 22 dias. (23 dias, daqui há 40 minutos, e provavelmente antes de eu acabar de escrever este post)

EU SOBREVIVI.


Foram 7 meses e 22 dias morando sob o mesmo teto que uma família chinesa. Foram 7 meses e 22 dias estudando numa escola local. Foram 7 meses e 22 dias comendo coisas nojentas. Foram 7 meses e 22 dias longe da pátria amada, idolatrada, salve e salve.

Primeiramente, acho que eu devo explicar o titulo. Pacifica porque no momento eu me encontro na China, então portanto o oceano que nos banha é o... ? ah haa, pegou a piada agora?

Verdade seja dita: eu nunca fui patriota. Lembro de ter tido essa conversa com a minha mãe e irmã a caminho do aeroporto, quando lhes disse que não tinha orgulho algum em ser brasileira. Que eu jamais morreria pela minha pátria.

Mas o engraçado é que tudo muda com a ausência. Não tem nada como o carinho brasileiro, a comida salgada, o feijão com alho... O arroz frito e temperado, o beijo na bocheca na hora do bom-dia...

Mas não estou escrevendo para falar das coisas que eu sinto falta. Me dei conta de que essa minha aventura não pode passar sem nenhum registro. Por que afinal, sou eu , pequena criatura brasileira, vivendo na CHINA. CHINA. CHINA!!

Pois bem, tanta coisa eu não contei, tanta coisa eu vivi, e principalmente: quanta coisa nojenta eu comi.

E vamos começar pelo começo. Vou contar um pouco da minha rotina aqui para vocês, leitores (e ai mãe, tudo bem?), para que vocês possam entender um pouquinho da minha experiência como intercambista aqui em Hong Kong.

Estudo em uma escola chamada Heep Yunn, uma das escolas mais rígidas para meninas de Hong Kong. Nosso look é realmente muito atrativo: um belo vestido azul chinês, com um broche maravilhoso com o brasão da escola pendurado no colarinho. Michael Jackson é nosso ídolo: usamos sapatos pretos de couro, combinados com magníficas meias brancas. Infelizmente, queridos brasileiros, as Havaianas não são bem vistas aqui, e portanto não somos permitidas a usa-las para ir a escola.

Enfim, a minha jornada por aqui está quase acabando agora – são só mais dois meses. Dois meses, e volto a ver as nossas palmeiras, onde cantam os sabiás.

Mais aventuras ficam para o próximo post.

Beijomeliga, 谢谢 por lerem, e 再见!