Oito semanas.
Exatamente oito semanas.
Daqui há oito semanas, não tenho mais que reclamar da atitude chinesa, da minha escola, do meu uniforme. Daqui há oito semanas minha aventura acaba. Daqui há oito semanas, minha missão (inicialmente impossível) vai ter sido cumprida.
E eu nunca imaginei que me sentiria assim. Pensar em deixar minha vida daqui começa a me dar um certo pânico. Será saudades?
Por que eu vim para Hong Kong? Sinceramente, nem eu mesma sei responder. Acho que uma mistura de tudo: querer mudar a minha vida no Brasil, poder conhecer novas pessoas, poder orgulhosamente dizer que eu posso falar Mandarin (hahaha, grande piada). Mas no fundo no fundo, acho que eu vim para encontrar alguém que eu vou ter que conviver pelo resto da minha vida. Eu vim para me encontrar.
E vivendo nessa cidade louca, onde todas as nacionalidades – desde chineses, brasileiros, indianos, paquistaneses, nepaleses, mexicanos, filipinos até todos os tipos europeus – podem ser encontradas, eu vim procurar minha identidade. Minhas raízes. Meu sangue oriental.
E depois desse tempo todo aqui, percebo que é muito difícil classificar quem sou eu. No Brasil, digo que sou japonesa e chinesa. Mas aqui na China, tenho que dizer que sou brasileira, para poder justificar o fato de que eu não falo nem japonês nem chinês. Então, se ai no Brasil eu sou uma coisa, e aqui na China eu sou outra, o que sou eu?
E cada vez mais acredito na frase: “o individuo é produto do seu meio”. É inevitável a intimidade que os latinos sentem uns com os outros em menos de 30 minutos de conversa, é incrível comparar o calor latino com a vergonha e maneiras embaraçadas chinesas.
Eu, como uma descendente de chineses e japoneses, sendo a terceira geração no Brasil, já não me sinto e não me encaixo com muitas das maneiras que os orientais tem. Mas o que seria de mim se meu bisavô chinês e minha bisavó japonesa não tivessem imigrado para o Brasil?
A minha missão aqui está quase acabando, mas tenho uma única certeza: esses foram os primeiros nove meses de muitos anos que eu ainda vou viver nesse país – ok, teoricamente eu vivo agora em uma Região de Administração Especial, então não conta como China de verdade – que o mundo todo tenta compreender.
Porque eu não gastei tanto dinheiro (reformulando: meus pais não gastaram tanto dinheiro) nas minhas de Mandarin para eu não conseguir ser no mínimo nível intermediário (apesar do meu livro dizer que eu sou, habilidades praticas ainda não correspondem a esse nivel). Não decorei tantos ideogramas – uns 30...? – para não conseguir ler um jornal. Não morei 9 meses na China para não entender a cultura chinesa.
E apesar de ter que me despedir disso tudo em oito semanas, fica a certeza de que daqui há um tempo, estou de volta.
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